Barreira intestinal: separando a saúde da doença
Barreira intestinal e bactérias – uma relação conflituosa ainda não assumida pela medicina oficial e ignorada pelos protocolos clínicos
[Imagem: sfp.org.ua]
É muito comum, no nosso meio, que as pessoas sejam portadoras de um intestino inflamado, irritado por excipientes de medicamentos, por todo tipo de lixo industrial dos alimentos processados [leite de “caixinha”, cervejas, enlatados, pães e quase tudo que povoa a gôndola do supermercado, especialmente processados], mas também por legumes e celulose, por antinutrientes das sementes, cereais e folhosos.
O que pouca gente sabe é que a instalação de um processo crônico de inflamação intestinal – mesmo o de baixa intensidade – tem repercussão não apenas na saúde intestinal, mas sistemicamente.
Inflamação crônica do intestino impacta a chamada função de barreira.
É preciso levar em conta que muito mais do que um digestor de alimentos, o tubo digestivo e, especificamente o intestino grosso - ou cólon - cumpre um papel central na nossa proteção em relação ao meio ambiente. Não apenas separa o meio ambiente da nossa intimidade bioquímica, mas nos protege da agressão que vem de fora via intestino.
E, ao mesmo tempo, quando essa sua função protetora falha – o que é absolutamente muito mais comum do que se pensa – teremos, como resultado, uma cascata de doenças crônicas que impactam todos os nossos sistemas orgânicos.
Por exemplo, as endoxinas e a serotonina [A] estão na base de várias doenças degenerativas [ver artigo aqui e aqui ].
E as duas são justamente produzidas no intestino povoado pelas bactérias, sendo que as endotoxinas são produto direto da simples presença das bactérias. Muita bactéria, um monte de endotoxinas. E o inevitável desenvolvimento da doença crônico-degenerativa [ver aqui e aqui].
Parte da função epitelial de barreira reside no muco, que é produzido por um dos cinco tipos de células do epitélio que revestem o intestino.
A parte externa deste muco, a mais diretamente em contato com os alimentos, é mais fluida que a mais profunda, sendo que esta última repousa sobre as células.
O muco que reveste o intestino grosso possui, portanto, duas camadas, uma mais profunda, mais gel-like, que as bactérias não acessam, e a outra, superior que a microbiota coloniza. Apenas nesta fina camada externa do muco do cólon é permitido [pelas defesas locais] que as bactérias colonizem. Na camada mais profunda, que vem logo abaixo não há bactérias, esta zona detém a entrada de bactérias através da mucosa.
Portanto, somente a camada externa, no caso do intestino grosso, é colonizada por bactérias.
O epitélio mucoso, com suas células, separa o meio externo do interno.
Esta mucosa, portanto, é uma barreira crítica. Funciona como uma barreira semipermeável.
E, justamente aqui as bactérias constituem um problema.
Mesmo que os defensores de pró-bióticos e dieta abundante em fibras indigestas não entendam assim; sua perspectiva é outra, romantizam o bioma intestinal. Mas o problema das endotoxinas continua existindo, inclusive no intestino deles, dos defensores incondicionais do bioma [descobririam isso facilmente, simplesmente modulando seu próprio bioma].
E novamente: disfunção de barreira intestinal, isto é, enfraquecimento desta barreira, é central em várias doenças degenerativas. A saúde depende da integridade da barreira. E também de algum controle para manter a microbiota limitada. Limitada no número e também restrita ao cólon.
Não é esperado que bactérias colonizem o intestino delgado, como ocorre normalmente com o intestino grosso.
Até porque o intestino delgado é mais vulnerável à ação de bactérias que o grosso, já que possui apenas uma camada mucosa ao contrário do cólon, que possui uma segunda camada onde bactérias usualmente não entram, não colonizam, até pelo fato de ela possuir blindagem imune [imunoglobulina IgA].
O epitélio, por sua vez, que vem logo abaixo do muco, produz uma substância, uma fosfatase alcalina particular, que destrói a endotoxina, destrói aquela membrana de bactérias que habitam o intestino.
Além disso, há outras substâncias que são liberadas no muco que impedem que certas bactérias se desenvolvam. Por exemplo, normalmente, a bactéria Escherichia coli, não tem vez porque as células do intestino fabricam substâncias antibacterianas [contra ela].
Isso já dá uma ideia que o microbioma não é aceito incondicionalmente pelo nosso corpo. É tolerado, por assim dizer.
A barreira intestinal deve proteger nosso ambiente interno das toxinas externas, causadoras de reação no intestino, que, por sua vez, libera, em resposta, a histamina. Antígenos dos alimentos acionam histamina no intestino. Aqui, o intestino funcionando como barreira, reage tratando desativar a perigosa histamina, que pode promover processos alérgico-inflamatórios. Ela é defensiva mas termina sendo ofensiva.
Nas criptas da mucosa da barreira intestinal existe uma enzima [DAO][B] que quebra histamina.
Histamina é uma molécula inflamatória secretada por células do sistema imune após contato com antígenos, por exemplo. Tem função destrutiva contra o invasor, o gérmen. Determinadas células carregam vesículas com histamina a ser liberada a partir de estímulo externo: basófilos, mastócitos, plaquetas, neurônios histaminérgicos, linfócitos. Histamina tem efeito vasodilatador sobre capilares.
A atividade fisiológica dessa enzima que está presente nas vilosidades intestinais impede que haja excesso de histamina, como foi dito [produzida em reação a antígenos].
Mas esse sistema pode falhar.
Se há comprometimento da barreira, em consequência disso, aparecerão alergenos ou “intolerâncias” alimentares.
Isso ocorrerá como resultado do enfraquecimento daquela enzima, por uma inflamação intestinal, por exemplo, o que se traduzirá em níveis mais altos de histamina e intolerâncias ou reações alérgicas, por exemplo, vinculadas a aquela elevação histamínica. Ou, eventualmente, pela perda de enzimas como a lactase, destruída por um intestino cronicamente inflamado.
Como já foi explicado, sub-epitélio intestinal, é uma porta de entrada do sistema imune, dessa forma, um intestino cronicamente sobrecarregado por bactérias, além de desequilibrar os hormônios protetores, também promove intolerância alimentar, alergias, problemas respiratórios, pela ativação daquele sistema imune.
E uma consequência disso é a produção de moléculas indesejáveis como óxido nítrico, fator de necrose tumoral [FNT], prostaglandinas e histamina; além da serotonina, que passa a ser, nesse caso, majoritariamente produzida pelo intestino.
Conclusão: a saúde intestinal é decisiva, por exemplo, para criar ou sanar intolerâncias alimentares [C].
Embora a estratégia correta jamais deveria ser entendida como reforço do bioma intestinal mas sim como seu controle. Sua modulação para limitar seus danos.
[Esta nota é excerto do livro publicado em 2023, Por que [quase] toda doença começa no intestino][O livro pode ser obtido aqui ]
GM Fontes, Brasília , Brasília, 25-3-24
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos. Nenhuma das notas aqui presentes, neste blog, conseguirá atingir o contexto específico do paciente singular, nem doses, modo de usar etc. Este trabalho compete ao paciente com seu médico. Isso significa que nenhuma dessas notas - necessariamente parciais - substitui essa relação.
Notas ____________________
[A] Produzida centralmente no intestino, a serotonina é uma molécula inflamatória (ao contrário da opinião médica corrente) e que está na base de várias doenças degenerativas. A serotonina [ou 5-hidroxitriptamina], até hoje, tem seu papel entendido pelo avesso, na medicina dominante, que passa ao largo do seu efeito deletério – e cientificamente documentado - na gênese de doenças. Ver mais sobre isso em outras notas neste blog.
[B] A enzima diaminooxidase. Ela limpa a histamina do espaço extracelular, especialmente intestino e rins. Já sabemos que, por exemplo, diante de uma reação alérgica, o mastócito libera histamina. Álcool [vinho e destilados] e certos medicamentos inibem a DAO. Portanto, aumentam o teor de histamina nos sistemas. Espinafre e berinjela trazem histamina. Lebrando que o vinho tinto é rico em histamina e é potente inibidor da DAO. Ele também traz tiramina e sulfitos. E inibir a DAO, como já deve ter ficado claro, promove ação da histamina.
[C] Este argumento científico é retomado, recentemente, por uma autora que acerta neste tema dos riscos da ruptura da barreira intestinal, mas é uma autora dominada por contradições teóricas. Parte das suas contradições se expressa em sua adesão a óleos tóxicos. É sem sentido sua proposta de castanha do Pará como fonte de selênio, do salmão como fonte de vitamina B6 esquecendo que são fontes de óleos ômegas, pró- inflamatórios. Completamente deletérios para o intestino. https://www.innate-nutrition.com/blog/allergies-sore-throathistamine-intolerance-symptoms Ver, a respeito disso, futuro livro, Óleos tóxicos.
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