Flora intestinal: o que o seu médico [ainda] não lhe contou
Cresce a massa de trabalhos científicos apontando para o microbioma como fonte de doenças crônicas.
Se existe um grande lugar comum – ou narrativa, como se queira – na atual medicina dominante é o das “boas bactérias”. E que se expressa no esforço de cada médico ou terapeuta “alternativo” em impulsionar a flora intestinal do seu paciente com mais e mais bactérias. Sempre para o bem do paciente, a sua doutrina é a de quanto mais robusto for o microbioma [é como atualmente é chamada a flora bacteriana intestinal] do paciente, quanto mais adequada, mais balanceada for a flora, mais saúde haverá.
Até falam em “segundo cérebro” e também defendem a tese de que somos mais bactérias que humanos, somos “apenas 10% humanos” e, em consequência disso, elevam o microbioma ao pedestal da excelência em saúde.
O problema nisso tudo é que a construção dessa narrativa depende da supressão do conhecimento abundante na direção contrária. Claro que há interesses envolvidos e também é evidente que o mercado molda a medicina há várias gerações. Aqui nada de novo.
Mas, reflexões à parte, o fato é que jorram incessantemente de centros de pesquisa dos mais diferentes países evidências mostrando que a flora intestinal [e quanto mais robusta e exuberante, pior] vem sendo identificada como a causa incontornável de um sem número de doenças crônico-degenerativas. Esse manancial de conhecimento tem que ficar na sombra para que prevaleça a lenda.
[Imagem: Pixabay]
As citações abaixo, a esse respeito, não são mais que uma minúscula amostragem.
Flora intestinal produz permanentemente endotoxinas. Estas promovem inflamação, hiperpermeabilidade intestinal, ativação de mastócitos [do nosso sistema imune inato], liberação de mediadores inflamatórios e toda sorte de problemas que impactam negativamente o metabolismo.
Para vários cientistas não se trata de “boas” ou “más”, “balanceadas” ou “não balanceadas”: todas eles liberam – pelo simples fato de existir e se replicar – fragmentos de sua membrana, os terríveis lipopolissacarídeos [LPS] mais conhecidos como endotoxinas.
Argumentam esses autores que não há como inocentar as endotoxinas e não há bactérias que não as produzam. E mais, um fígado comprometido por qualquer razão, tende a não mais modular sua entrada nos nossos sistemas. Aliás, ironicamente e por outro lado, um dos problemas das endotoxinas é que impactam negativamente o próprio fígado.
Uma decorrência lógica dessa tese – e uma vez checada a cascata de trabalhos científicos a respeito dos males da flora intestinal – seria procurar evitar alimentos que promovam fermentação bacteriana, isto é, que sirvam de nutrição para aqueles microorgansmos no nosso intestino. Sejam esses alimentos os chamados probióticos, ou então as saladas, o amido e fibras indigestas [indigestas para nós, alimento de primeira para as bactérias].
De toda forma, estamos diante de mais uma esfera da medicina cancelada pelo cartel médico dominante e seus correligionários. O debate não é aberto para valer, não chega às faculdades de medicina, obviamente muito menos à grande mídia amestrada e, ao final, a lenda continua, do microbioma-santuário-da-boa saúde.
GMF, Brasília 22-12-2022
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