O intestino deve ser levado em conta em toda doença crônico-degenerativa
Bactérias intestinais – podem se tornar um problema sério e fonte permanente de doenças crônico-degenerativas
[Imagem: medvestnik.by]
Bactérias do intestino liberam endotoxinas; estas – além de irritarem a mucosa - atravessam a barreira intestinal, caindo diretamente no plasma; doenças são alimentadas ou criadas dessa forma, cronicamente.
A relação bactérias-intestino é tudo menos pacífica [A].
Endotoxinas são lipopolissacarídeos tóxicos com potencial de gerar doenças. Como explica R. Peat, as endotoxinas ou outros materiais absorvidos a partir das bactérias intestinais contribuem para uma variedade de problemas de saúde, inclusive as chamadas doenças autoimunes, incluindo a tireoidite.
Já foi mencionado que a camada epitelial do intestino repousa sobre um tipo de tecido conjuntivo chamado de lâmina própria que, por sua vez, é carregado de células imunes (células B e T, macrófagos, células dendríticas).
Portanto, nesta camada subepitelial, reside parte do sistema imune [B] (inato e adaptativo). O intestino, portanto, está inseparavelmente ligado à nossa imunidade.
Neste caso, estamos diante de um mecanismo permanente de defesa, que não deve ser violado.
E aqui temos, claramente, o epitélio intestinal no seu papel de interface entre o meio externo (que traz, incessantemente, seus antígenos, as bactérias com suas endotoxinas) e o meio interno, nosso plasma sanguíneo.
Impossível, neste caso, não perceber o papel do intestino (e do tubo digestivo em geral) como regulador da saúde e da imunidade, se estabelecendo aqui um sinal de igualdade entre o comprometimento da função de barreira e, na outra ponta, as doenças sistêmicas e problemas imunes.
E também fica evidente que uma queda na imunidade – sua supressão com corticoides [C], ou pelo próprio estresse, por exemplo – impacta diretamente a função intestinal de barreira. Estresse sempre impacta negativamente o intestino.
Por sua vez, aquelas células do sistema imune inato, que ficam logo abaixo da mucosa intestinal precisam estar ativas, competentes, para que seja mantida a linha de defesa local. Supressão do sistema imune, que será, por exemplo, consequência do consumo de óleos insaturados, compromete a barreira intestinal.
Inflamação também.
Um processo inflamatório engendra mais permeabilidade intestinal e, por essa via, pelo aumento da permeabilidade intestinal, promoção de mais inflamação. Círculo vicioso nefasto. Também com comprometimento da peristalse.
Em suma: a saúde intestinal e, por extensão, dos vários e mais distantes sistemas do nosso organismo, vai depender do status funcional do intestino, da integridade da função de barreira semipermeável que ele cumpre, daquilo que ele deixa passar ou filtra, também do seu estado inflamatório ou não.
E essa função do intestino, crítica para a saúde plena, apoia-se na reservação daquela permeabilidade intestinal e na redução ao mínimo do impacto nocivo daquela flora bacteriana que povoa o intestino, isto é, da minimização do impacto negativo da liberação de toxinas pelas bactérias intestinais.
Endotoxinas
As endotoxinas, substâncias que fazem parte da parede bacteriana, já foi explicado, são liberadas constantemente pelas bactérias intestinais.
Podem atravessar a barreira intestinal e, dessa forma, entram no nosso sistema onde tendem a se tornar uma carga para o fígado, afora outros impactos patogênicos.
A entrada crônica e maciça daquelas endotoxinas no sangue depende de várias determinações que terão por base o aumento da permeabilidade intestinal e a manutenção de uma exuberante população bacteriana.
E não custa enfatizar: as endotoxinas constituem a primeira grande ameaça contra a integridade da barreira intestinal, a qual, uma vez violada, trará um subsequente leque de consequências nefastas para todos os sistemas.
Endotoxinas comprometem um elemento tão fundamental como é a respiração celular.
O mecanismo básico de ação das endotoxinas é uma estimulação inadequada das células “seguida de inflamação e inibição mitocondrial. A estimulação parece ser uma ação ´biofísica´ direta nas células, fazendo com que elas captem água” [R Peat, On endotoxins].
“As endotoxinas interferem com a oxidação do açúcar e impedem a ativação do hormônio tireoidiano o que leva a inflamação de várias partes do corpo, especialmente a cartilagem, os discos intervertebrais, que tendem a se edemaciar e se tornarem debilitados quando se tem deficiência tireoidiana e com presença de endotoxinas” [D]
A entrada de endotoxinas intestinais vai alimentar inflamação em várias partes do corpo. Através de mediadores inflamatórios, necessariamente, acionados pelas endotoxinas.
Mediadores inflamatórios são compostos secretados por células que estejam sob estímulo [de antígeno, de calor, do trauma mecânico, de radiação ionizante etc] e que servem para ativar ou amplificar aspectos específicos da inflamação.
Os mediadores inflamatórios são, por exemplo, aminas vasoativas [a exemplo da histamina e da serotonina], metabólitos do ácido araquidônico (AA), o fator de ativação plaquetária (FAP), as já citadas citocinas, espécies reativas do oxigênio (ERO), óxido nítrico (NO), enzimas lisossômicas dos leucócitos, determinados neuropeptídeos e assim por diante.
Preservar a boa função protetora do intestino [sua semipermeabilidade] contra as bactérias e antígenos é, como veremos, algo que jamais pode ser deixado de lado quando se aborda praticamente qualquer doença crônico-degenerativa.
Este, infelizmente, não é o protocolo da medicina dominante [E], mas é o que se impõe para o êxito terapêutico no combate à doença crônico-degenerativa e é, também, o pressuposto mais elementar quando se pensa o organismo e sua fisiologia como uma totalidade.
Portanto, intestino cronicamente inflamado promove a produção de hormônios do estresse como cortisol e estrogênio. E este resultado turbina as doenças crônico-degenerativas.
[Esta nota é excerto do livro a ser publicado em breve Por que [quase] toda doença começa no intestino]
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos.
Referências_______________
[A] Embora haja, no intestino, pela microbiota, alguma conversão da vitamina K 1 em K2. Devendo ser, no entanto, ressaltado que o fundamental da vitamina K virá de fora, da alimentação [fígado, especialmente].
[B] A barreira gastrointestinal possui dois componentes: a barreira intrínseca que é composta de células epiteliais revestindo o tubo digestive e as junções intercelulares que as mantêm juntas. A barreira extrínseca consiste de secreções e outras influências que não são fisicamente parte do epitélio, mas que afetam as células epiteliais e preservam a funçao de barreira. [http://www.vivo.colostate.edu/hbooks/pathphys/digestion/stomach/gibarrier.html]
[C] Que são usados amplamente pela medicina como medicamento [cortisona].
[D] PEAT, Ray. Sugar myths part 2.
[E] A qual, ao contrário, tem o costume de promover a população bacteriana intestinal com suas dietas [ricas em celulose, amidos e fibras indigestas] e probióticos.
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