Estrogênio e radiação ionizante: um círculo vicioso na promoção do câncer
Enquanto a medicina dominante continuar exigindo exames de radiação ionizante tipo RX, mamografias, a desinformação do paciente poderá cobrar um alto preço para a sua saúde
[Imagem: mayoclinic.org]
Já foi mencionado aqui que a radiação ionizante da tomografia ou da mamografia não apenas promove inflamação de baixa intensidade como aumenta o estrogênio corporal e, na sequência positivamente aumenta a chance de câncer.
Outros trabalhos apontam na mesma direção [C][E]. Para R. Peat, tanto estrogênio quanto a radiação ionizante estão entre as mais claramente documentadas causas do câncer de mama.
“Seus efeitos excitatórios levam a inflamação, edema, fibrose e interrupção de processos regulatórios intercelulares. Radiação é estrogênica e estrogênio aumentado produz crescimento e perda temporária de funções diferenciadas” [R. Peat, Breast cancer][F][G][H].
E, no entanto, o estrogênio foi tão ampla e profundamente estabelecido pela indústria e congressos médicos no imaginário da própria corporação médica como um hormônio benéfico que ele é até utilizado em reposição hormonal na menopausa. E continua sendo a grande escolha nos contraceptivos femininos.
Mas os fatos batem na porta: não faltam trabalhos mostrando o quanto o estrogênio não é uma opção de reposição hormonal e a progesterona, por sua vez, sim.
Difícil explicar que ainda se entenda o estrogênio como “terapêutico”. Difícil também entender que ainda sejam publicados inúmeros artigos tentando provar qualquer efeito positivo do estrogênio contra o câncer ou qualquer doença crônico-degenerativa.
O que as pessoas eventualmente não sabem é que muitos desses trabalhos pró-estrogênio que são desenhados com viés [tendenciosidade], são prioridade em fundos da Big Pharma ou são mais aceitos para alavancar carreiras científicas e a própria indústria do que uma pesquisa mostrando, por exemplo, o papel do hormônio tireoidiano [T3] ou da progesterona no tratamento de doenças crônicas. O estrogênio parece ser mais lucrativo.
Cabe ao paciente levantar essa discussão com seu médico quando ele vier prescrevendo creme de estrogênio para isso ou para aquilo; neste caso, ignorando que o estrogênio, sem oposição da progesterona, engendra doenças, dentre elas o câncer. O estrogênio altera, contrafisiologicamente, a estrutura dos tecidos.
“Estrogênio e radiação não são as únicas coisas que produzem mudanças sistemáticas na estrutura dos tecidos – também deficiência de vitamina A, hidrocarbonetos clorados, irritação e falta de oxigênio podem causar mudanças similares – mas estrogênio e radiação foram estudados o suficiente para assegurar um quadro distinto dos reais processos envolvidos no desenvolvimento do câncer” [R. Peat, idem].
[Imagem: onphospitals.com]
Uma vez que não será do dia para a noite que esse paradigma do estrogênio na medicina atual irá mudar, cabe ao doutor – mas também ao paciente – ficar alerta para a produção numericamente mais marginal porém de ciência de qualidade que, constantemente é produzida, sem que se faça barulho a respeito, mostrando o quanto é um problema grave a continuidade dessa lenda em torno do “bom estrogênio”.
Há poderosos interesses de que a indústria do estrogênio “terapêutico” siga em frente. Então é comum estudos onde o viés é até facilmente detectável.
Um exemplo é o de COLLINS [1980]. Já é sabido que mulheres podem desenvolver um processo cancerígeno – no endométrio, por exemplo – por causas que não sejam primariamente o estrogênio, a exemplo uma carência prolongada no tempo da vitamina A ou um hipotireoidismo crônico acompanhado do impacto de muitas endotoxinas no intestino e de óleos insaturados.
Agora imagine um trabalho científico comparando a sobrevivência de mulheres com aquele tipo de câncer, mas que seja desenhado da seguinte forma: compare mulheres com aquele câncer mas que não fizeram uso de reposição de estrogênio com outro grupo, também com o mesmo tipo de câncer, mas que fez tal reposição. O objetivo é analisar os anos de sobrevida para ver se quem usou estrogênio terá mais anos de vida ou não.
Qual o valor científico deste tipo de trabalho do ponto de vista da reposição de estrogênioɁ Nenhum.
O câncer já está em desenvolvimento nos dois grupos. Se algumas usaram reposição de estrogênio ou se não usaram, agora não faz grande diferença, já que o câncer já está em aberto desenvolvimento e, portanto, outras variáveis entraram em cena antes.
Faria diferença se tomassem dois grupos de animais fêmeas de laboratório, os dois grupos SEM câncer, e aplicassem estrogênio em um grupo e no outro não, por um bom tempo. Aqui se poderia constatar o efeito-estrogênio na gênese do câncer; já que o estrogênio seria a única variável diferente diante de animais sem câncer.
Mas um estudo como aquele acima citado não poderia provar grande coisa sobre o efeito-estrogênio na sobrevida das mulheres. Seria um trabalho com viés, já que TODAS elas já estão com câncer tendo ou não usado estrogênio antes.
E, no entanto, o trabalho existe [A] e ainda tem a ousadia de concluir que quem tomou estrogênio sobreviveu mais algum tempo [no caso de cânceres de pequena diferenciação]. E que, portanto, tomar estrogênio protege mais... Trabalhos assim vão a congressos e são levados a sério, também são publicados no Lancet.
No entanto, na direção oposta, existem vários outros trabalhos, de qualidade, mostrando que o uso de estrogênio, em determinado tempo desenvolve mais câncer do que seu não uso [C].
Por exemplo, o trabalho de VECCHIA [B], na Itália, de controle de casos, mostrou que o uso de contraceptivos estrogênicos aumentou o risco de câncer do endométrio.
De passagem, é interessante lembrar que esse trabalho italiano [B] também mostrou que obesidade aumenta o risco de câncer do endométrio, eventualmente mais que o próprio uso do estrogênio exógeno. Aqui vale lembrar que uma mulher obesa fabrica muito mais estrogênio que uma não obesa e que o tecido adiposo em excesso opera, nesse sentido, como um segundo sistema endócrino pela presença da aromatase - enzima da síntese do estrogênio - no tecido gorduroso.
Também já se sabe que mulheres que foram expostas a radiação ionizante na infância carregam um risco bem maior de apresentarem câncer de mama. Incluindo mulheres que receberam RX dentário [D].
No caso desta experiência [D] foi considerada a baixa dose de RX. O risco mostrou-se elevado, para câncer de mama nas mulheres com várias mamografias ou outros tipos de RX de tórax. Risco maior para mulheres que não tiveram gestação [nulíparas], provavelmente por maior exposição à progesterona.
Conclusão do estudo: “nossos achados amparam a hipótese de que radiação ionizante em baixa dose e, especialmente, exposição durante a infância, aumentam risco de câncer de mama” [D]. O que tem a ver, como já sabemos, com aumento do estrogênio pela ação da radiação.
GM Fontes, Brasília 11-5-23
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos.
[A] COLLINS, J DONNER, A, 1980. Oestrogen use and survival in endometrial câncer. Lancet. 1980 Nov 1;2(8201):961-4. doi: 10.1016/s0140-6736(80)92115-7. PMID: 6107599 DOI: 10.1016/s0140-6736(80)92115-7 “Of 860 women with endometrial cancer registered in a regional cancer treatment centre, 259 (30%) gave a history of oestrogen use for 6 months or more at some time before diagnosis, and 568 (66%) were non-users. [...] A history of estrogen use is not associated with superior survival of women who have poorly differentiated tumors or myometrial invasion”.
[B] VECCHIA, C L FRANCESCHI, S, 1982. Prognostic features of endometrial cancer in estrogen users and obese women. Am J Obstet Gynecol. 1982 Oct 15;144(4):387-90. doi: 10.1016/0002-9378(82)90241-1. PMID: 7124857 DOI: 10.1016/0002-9378(82)90241-1 “In a case-control study to evaluate risk factors for endometrial cancer in Italy, use of noncontraceptive estrogens was associated with a moderately increased risk, whereas obesity appeared to be the most important single risk factor related to cancer of the endometrium. [...] An estrogen user was defined as a woman with a history of 3 or more months of regular use of noncontraceptive estrogen. [...] Obese women were defined as those with a W/H2 index of 25 or more. Noncontraceptive estrogens were taken by 31% of case subjects and 17% of controls; longterm use was uncommon; estrogen users were younger than nonusers; 49% of users and 63% of nonusers were obese. The estimated relative risk for estrogen use was higher in Stage 1 tumors, in well differentiated tumors, in tumors not infiltrating the myometrium, and in the absence of lymph node involvement. [...] increased likelihood of earlier cancer in estrogen users was evident in both groups. [...] These results may support the role of both endogenous and exogenous estrogen in endometrial cancer; in fact, obesity may increase the risk of endometrial cancer through an increase of endogenous estrogens as a result of various mechanisms linked to obesity itself”.
[C] FUCIC A, GAMULIN M, 2011, Interaction between ionizing radiation and estrogen: what we are missing? Med Hypotheses. 2011 Dec;77(6):966-9. doi: 10.1016/j.mehy.2011.08.021. Epub 2011 Sep 7. PMID: 21903337 DOI: 10.1016/j.mehy.2011.08.021 “Following complexity as a new approach in science of 21st century biomonitoring of biological effects caused by ionizing radiation received an option of a new dimension. [...] Impact of estrogen on carcinogenesis caused by occupational or accidental exposure to ionizing radiation additionally enables biodosimetry to recognize vulnerable subpopulations according to gender and age. Estrogen, as a potent molecule involved in number of biological pathways during development and adulthood, shows close interaction with pathological processes launched by overexposure to ionizing radiation which should be included in future research and radiation protection”.
[D] MA, H, HILL, C K, 2007. Low-dose medical radiation exposure and breast cancer risk in women under age 50 years overall and by estrogen and progesterone receptor status: results from a case-control and a case-case comparison. Breast Cancer Res Treat. 2008 May;109(1):77-90. doi: 10.1007/s10549-007-9625-5. Epub 2007 Jul 7. PMID: 17616809 DOI: 10.1007/s10549-007-9625-5 “Although moderate to high-dose ionizing radiation exposure is an established risk factor for breast cancer, the effect of low-dose radiation exposure has not been clarified by epidemiological data. We evaluated the effect of low-dose radiation from medical procedures on risk of breast cancer overall and by joint estrogen and progesterone receptor (ER/PR) status in 1,742 population-based case patients aged 20-49 years and 441 control subjects identified from neighbourhoods of case patients in Los Angeles County. After excluding radiation exposures in the 5 years prior to case's diagnosis or control's initial household contact date we found an elevated breast cancer risk among women who reported having had multiple chest X-rays (Ptrend=0.0007) or 7 or more mammograms (odds ratio [OR]=1.80, 95% confidence interval [CI]=0.95-3.42). Risk was also increased among women who received dental X-rays without lead apron protection before age 20 years (OR=1.81, 95% CI=1.13-2.90). Women, who had their first exposure to these medical radiation procedures during childhood, had a greater increase in risk than those who were first exposed at older ages. Although not statistically significantly different, risk estimates were somewhat stronger for nulliparous than for parous women. We found no effect modification by ER/PR status. In conclusion, our findings support the hypothesis that low-dose ionizing radiation, and particularly exposures during childhood, increase breast cancer risk”.
[E] GRANT, E J, NERIISHI K, 2011. Associations of ionizing radiation and breast cancer-related serum hormone and growth factor levels in cancer-free female A-bomb survivors. Radiat Res. 2011;176:678–687. [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
[F] MIYOSHI Y, TANJI Y, 2003. Association of serum estrone levels with estrogen receptor-positive breast cancer risk in postmenopausal Japanese women. Clin Cancer Res. 2003;9:2229–2233. [PubMed] [Google Scholar]
[G] RONCKERS C, M, ERDMANN C A, 2005. Radiation and breast cancer: A review of current evidence. Breast Cancer Res. 2005;7:21–32. [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
[H] BOICE, J D J, 1992. Cancer in the contralateral breast after radiotherapy for breast cancer. N Engl J Med. 1992;326:781–785. [PubMed] [Google Scholar]
***