Endometriose na narrativa oficial – o estrogênio e a progesterona [Parte 1 de 2]
Até hoje a medicina não chegou, oficialmente, a uma conclusão científica sobre as causas e a gênese da endometriose
[Imagem: news.zerkalo.io]
Comecemos pelo final. A endometriose é uma doença estrogênio-dependente, derivada fundamentalmente de um determinado grau de dominância estrogênica no corpo da mulher. Para que a endometriose se desenvolva é pressuposto um desequilíbrio na relação progesterona-estrogênio.
Dito isso, é preciso destacar que essa não é nem remotamente a definição de endometriose da medicina oficial nos manuais médicos. A endometriose é analisada oficialmente como um problema genético ou, então, como eles costumam dizer, multifatorial. Sem que avancem para a compreensão dessa doença até o final, ao menos não dos seus fundamentos.
De forma bem introdutória, é possível dizer que essa doença se expressa em sintomas que, em termos gerais, podem incluir dor menstrual, dor no ato sexual [dispareunia], dor no abdome, dor para evacuar, sangramentos vaginais e, dependendo da pessoa, pode ocorrer sangramento em outras regiões do corpo. Também pode ocorrer diarreia durante a menstruação, fadiga e falta de energia, dor ao urinar, períodos irregulares.
Células do útero estão colonizando outras regiões do corpo, de forma anômala.
Mas, antes de uma abordagem mais coerente ou fisiológica sobre a endometriose, é importante entender a opinião oficial, aquilo que a medicina hegemônica diz sobre endometriose.
Em primeiro lugar, aqui se destaca a impotência da teoria da doença e que fatalmente leva à impotência do tratamento. Da mesma medicina que se socorre de exames-diagnóstico como laparoscopia, ressonância, biópsia, radioisótopos, radiações ionizantes etc. Uma abordagem invasiva. E, no entanto, o que tais exames de imagens só vão constatar é a existência de tecido uterino fora do útero, que é basicamente o que eles documentam no laudo.
E esse é seu ponto de partida ou pretexto para exigirem, como única “solução” a retirada cirúrgica de tecidos anômalos. Sendo que muitos deles admitem que se trata de uma cirurgia bem invasiva, a depender do espalhamento das células uterinas, dando como consequência alto grau de recidiva da doença. Vejamos trechos da opinião de sites de ginecologia e também livros sobre endometriose.
Reconhecem que a endometriose é a principal causa de infertilidade feminina, que é o endométrio crescendo em locais como as trompas, ovários, gerando inflamação, cicatrização e finalmente comprometendo a funcionalidade das trompas onde ocorrem os primeiros eventos da fecundação. Percebem o quanto a presença de endometriose muda a qualidade de vida da mulher, para pior. Especialmente dores diárias e risco de desenvolvimento de câncer.
E também admitem que a chamada terapêutica hegemônica é invasiva. Eles dizem que as lesões devem ser retiradas cirurgicamente, quando a mulher já teve os filhos que ela desejava, e nesse caso, oferecem a retirada também do ovário e útero.
O objetivo da cirurgia por videolaparoscopia, será o de tratar de remover os focos de endometriose em todas as áreas possíveis, procurando não causar lesões em órgãos e estruturas acometidas pelos tecidos do endométrio. Ao mesmo, admitem o óbvio: que nem sempre se consegue remover todo endométrio alojado fora do útero e mesmo que se consiga [sic] ainda assim é possível que ele volte a se implantar, fazendo-se necessária nova cirurgia.
Ou seja, estamos diante de uma grande impotência: considerando que a cirurgia não resolve e que ainda podem propor a extração do aparelho reprodutor da mulher; resumindo: procura-se tratar uma doença no aparelho reprodutor e como “solução” retira-se cirurgicamente todo aparelho reprodutor? Sem comentários.
A medicina como ela é. Passam ao largo da etiologia hormonal, estrogênica da doença.
Quando falam em tratamento dizem [sic] os tratamentos auxiliam na melhora da endometriose, ou seja, é uma doença para qual eles não têm tratamento e muitas mulheres comentam que nem melhora trouxe. E doença cuja etiologia fica, no mínimo, obscura para os doutores; encobrem esse desconhecimento com a intervenção cruenta do bisturi, do laparoscópio.
E sempre afirmam para a paciente que “só existe essa solução”. Eventualmente propõem a retirada “apenas” do útero. Outras vezes prescrevem o uso da pílula contraceptiva, de bloqueadores de hormônios da hipófise, progestinas [progesterona falsa e tóxica]. Sempre tateando, invadindo, intoxicando, lesando.
Ao discutir causas, dizem: “ainda não são totalmente esclarecidas as causas da endometriose, e acredita-se que sua origem é multifatorial”. E inserem a seguinte narrativa: de que a endometriose ocorre porque as células do útero que no momento da menstruação deveriam sair para fora do corpo, caem dentro do corpo.
É esta definição que chamam de causa, o que na realidade é apenas uma fotografia da doença, pois, de fato acontece isso, fenomenicamente, descritivamente, mas o que eles não respondem é por que isso acontece. Esta pergunta parece não ser tema para eles.
Uma das maiores instituições da medicina norte-americana afirma que há várias teorias mas, na verdade, não se sabe a causa da endometriose. As teorias: genética; células que migram do útero, pela linfa, para outros lados do corpo; “menstruação reversa”, isto é, menstruação que vai para dentro das trompas; células quaisquer que se convertem em endometriais; e, finalmente, uma verdade: a endometriose pode ocorrer como sequela de cirurgia no útero. Mas, em suma, não sabem a causa.
Buscando, ainda no campo da pesquisa médica, entre os artigos científicos, teremos uma pequena surpresa, a de que alguns poucos artigos científicos se aproximam da verdade. Este é o caso de um artigo encontrado em PubMed, chamado Endometriose: Patogênese e Tratamento, de 2014 [A]. Este artigo é capaz de dizer que endometriose é uma manifestação estrogênio-dependente, que ocorre durante os anos reprodutivos, associada à dor e infertilidade. Mesmo insuficientes, tais artigos não chegam a mudar os livros de medicina. Estes continuam no mantra de substituir a descrição da doença pela causa da própria.
Esse artigo aqui citado, embora não desenvolva até o final seu raciocínio, vai, no entanto, ao centro da questão. E até chega a afirmar que [sic] “o tratamento médico é sintomático, não é sitorredutivo; cirurgia associada com altas taxas de recorrência; embora a erradicação da lesão seja considerada uma conduta para melhorar a possibilidade de fertilização, o benefício na performance reprodutiva é moderado; e a endometriose, por sua vez, está associada com aumento de 50% de risco de câncer no ovário". O artigo também descreve que a perda de células do endométrio para dentro do corpo provoca inflamação crônica com formação de aderências.
Artigos como este são raridade, já que vai um pouco além do plano puramente descritivo.
Há outro artigo também no PuBMed que consegue revelar a impotência da medicina, chamado Manejo clínico da endometriose, que diz “o tratamento médico é supressivo muito mais que curativo, e recorrências são comuns e ocorrem rápida e frequentemente quando a terapia médica é descontinuada” [D], ou seja, passada a cirurgia, ou o período de reposição hormonal, as lesões ressurgem. E, sim, eles “repõem” hormônios, chegam a prescrever anticoncepcional [estrogênio], como foi citado, como “tratamento” para endometriose. O que sugere que, para eles, a dinâmica hormonal da endometriose é claramente incompreendida.
Em relação à fertilidade, outro artigo do PuBMed afirma que o mioma é a doença mais comum do aparelho reprodutor feminino, sendo a endometriose a segunda colocada, ainda que seja a principal causa de infertilidade. Em relação à endometriose, novamente eles repetem que a patogênese da endometriose não é claramente entendida, portanto o tratamento causal continua impossível. Ao menos, é um estudo relativamente transparente, ao admitir que eles não têm o que fazer, uma vez que não atacam a causa.
O que sabem é que durante a menstruação em determinadas mulheres, as células caem pela trompa para dentro abdômen, do peritônio, e que essa fuga faz com que elas consigam colonizar tecidos dentro do abdome, fora de seu tecido de origem, no caso, o útero. Novamente, essa é a visão fotográfica e não da gênese.
Dito isso, a visão de Ray Peat e seus seguidores, por assim dizer, é de que é preciso que haja uma dominância estrogênica, ou seja, um excesso de estrogênio no corpo, para que a endometriose se desenvolva.
Dessa forma, considerando os amplos efeitos negativos do excesso de estrogênio em relação à progesterona, obviamente não será apenas a endometriose a consequência dessa dominância estrogênica, mas o estrogênio em excesso também será causa de outras doenças ligadas ao aparelho reprodutor feminino como o câncer de ovário, cistos ovarianos, câncer de mama, miomas e afins.
Ou seja, todas essas doenças possuem uma causa hormonal básica. Que a doença se desenvolva em uma e não em outra particular mulher, serão elementos singulares, da história natural daquela pessoa. Mas, é possível entender que à medida que a endometriose estiver em curso, outras patologias do aparelho feminino também estarão em desenvolvimento, ainda que em graus diferentes.
Mesmo que a endometriose chame mais atenção, é improvável que tamanha dominância estrogênica não impacte os demais órgãos e sistemas femininos [lembremos que quadro similar de dominância estrogênica impacta também o organismo masculino engendrando, por exemplo, o tumor de próstata]
A dominância estrogênica pode se desenvolver de várias formas, que se dão a partir da alimentação inadequada, de disfunção hepática, de endotoxinas, do estilo de vida, do uso de certos fármacos, dos sucessivos processos de estresse, que vão promovendo um desequilíbrio hormonal; em direção à dominância estrogênica. O uso da pílula é um impulso nessa direção; também o do dispositivo intrauterino [DIU], corpo estranho, inflamatório, que impacta negativamente a produção de progesterona.
É a partir da alimentação e de recorrentes processos de estresse, que se produz diretamente um aumento de estrogênio. Invariavelmente, gerando em consequência alteração na relação estrogênio/progesterona. É a relação, muito mais do que a quantidade absoluta de cada um deles. Estrogênio e progesterona são moléculas antagônicas, ou seja, para se estabelecer um aumento de estrogênio, é preciso que a progesterona decline.
Dessa forma, o tratamento que leve ao aumento da progesterona é inibidor da presença do estrogênio. O duelo entre essas duas moléculas, uma claramente indutora de doenças e a outra protetora, vem a ser o núcleo duro da dominância estrogênica.
Neste sentido, a endometriose é uma doença vinculada à dominância estrogênica, que por sua vez, é provocada por uma queda na progesterona. A queda da progesterona pode se dar por inflamação, pela falta de insumos [colesterol, vitamina A, T3], pela presença de óleos insaturados ou, conforme citado, por uma deficiência tireoidiana [T3].
Todos esses elementos estão integrados através de uma enzima chamada aromatase, que está presente em todos os tecidos do corpo, como ossos, cérebro, gordura da pele, fígado, etc. Esta enzima é ativada quando há uma queda da progesterona ou quando se desenvolve um processo inflamatório. Óleos insaturados também mobilizam a aromatase, fazendo com que ela produza estrogênio.
Seja como for, a primeira atenção quando existe um processo de endometriose em curso, é em direção à progesterona e ao estrogênio. Sempre procurando passar ao largo de qualquer “reposição” de estrógenos [estradiol, estriol, por exemplo] e procurando recorrer – lado a lado com seu médico - à suplementação adequada de progesterona [da progesterona pura em solvente oleoso atóxico; jamais cremes] e à correção do hipotireoidismo. E do combate à produção copiosa de endotoxinas [C].
G M Fontes, Brasília, 7-7-24
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos. Nenhuma das notas aqui presentes, neste blog, conseguirá atingir o contexto específico do paciente singular, nem doses, modo de usar etc. Este trabalho compete ao paciente com seu médico. Isso significa que nenhuma dessas notas - necessariamente parciais - substitui essa relação.
Referências__________________
[A] VERCELLINI P VIGANO P SOMIGLIANA E, 2013. Endometriosis: pathogenesis and treatment. Nat Rev Endocrinol. 2014 May;10(5):261-75. doi: 10.1038/nrendo.2013.255. Epub 2013 Dec 24. PMID: 24366116 DOI: 10.1038/nrendo.2013.255 “Endometriosis is defined as the presence of endometrial-type mucosa outside the uterine cavity. Of the proposed pathogenic theories (retrograde menstruation, coelomic metaplasia and Müllerian remnants), none explain all the different types of endometriosis. According to the most convincing model, the retrograde menstruation hypothesis, endometrial fragments reaching the pelvis via transtubal retrograde flow, implant onto the peritoneum and abdominal organs, proliferate and cause chronic inflammation with formation of adhesions. The number and amount of menstrual flows together with genetic and environmental factors determines the degree of phenotypic expression of the disease. Endometriosis is estrogen-dependent, manifests during reproductive years and is associated with pain and infertility. Dysmenorrhoea, deep dyspareunia, dyschezia and dysuria are the most frequently reported symptoms. Standard diagnosis is carried out by direct visualization and histologic examination of lesions. Pain can be treated by excising peritoneal implants, deep nodules and ovarian cysts, or inducing lesion suppression by abolishing ovulation and menstruation through hormonal manipulation with progestins, oral contraceptives and gonadotropin-releasing hormone agonists. Medical therapy is symptomatic, not cytoreductive; surgery is associated with high recurrence rates. Although lesion eradication is considered a fertility-enhancing procedure, the benefit on reproductive performance is moderate. Assisted reproductive technologies constitute a valid alternative. Endometriosis is associated with a 50% increase in the risk of epithelial ovarian cancer, but preventive interventions are feasible”. Artigo conservador, que ainda usa as tóxicas progestinas em vez da progesterona pura e defende a cirurgia. Mas reconhece que é uma doença estrogênio-dependente e para a qual a medicina somente possui tratamentos sintomáticos e que a cirurgia dá alta taxa de recorrência.
[B] PEAT, R, Menopause and its causes. In: https://raypeat.com/articles/articles/menopause.shtml
[C] “Chronic constipation, and anxiety which decreases blood circulation in the intestine, can increase the liver's exposure to endotoxin. Endotoxin (like intense physical activity) causes the estrogen concentration of the blood to rise. Diets that speed intestinal peristalsis might be expected to postpone menopause. Penicillin treatment, probably by lowering endotoxin production, is known to decrease estrogen and cortisone, while increasing progesterone. The same effect can be achieved by eating raw carrots (especially with coconut oil/olive oil dressing) every day, to reduce the amount of bacterial toxins absorbed, and to help in the excretion of estrogen. Finally, long hours of daylight are known to increase progesterone production, and long hours of darkness are stressful. Annually, our total hours of day and night are the same regardless of latitude, but different ways of living, levels of artificial illumination, etc., have a strong influence on our hormones. In some animal experiments, prolonged exposure to light has delayed some aspects of aging”. R. Peat.
[D] FALCONE T FLYCKT T, 2018. Clinical Management of Endometriosis. Obstet Gynecol. 2018 Mar;131(3):557-571. doi: 10.1097/AOG.0000000000002469. PMID: 29420391 DOI: 10.1097/AOG.0000000000002469 “Endometriosis is a common and challenging condition of reproductive-aged women that carries a high individual and societal cost. The many molecular dissimilarities between endometriosis lesions and eutopic endometrium create difficulties in the development of new drug therapies and treatments. Surgery remains the gold standard for definitive diagnosis, but it must be weighed against the risks of surgical morbidity and potential decreases in ovarian reserve, especially in the case of endometriomas. Safe and effective surgical techniques are discussed within this article for various presentations of endometriosis. Medical therapy is suppressive rather than curative, and regimens that are long-term and affordable with minimal side effects are recommended. Recurrences are common and often rapid when medical therapy is discontinued. Endometriosis in the setting of infertility is reviewed and appropriate management is discussed, including when and whether surgery is warranted in this at-risk population. In patients with chronic pain, central sensitization and myofascial pain are integral components of a multidisciplinary approach. Endometriosis is associated with an increased risk of epithelial ovarian cancer; however, the risk is low and currently no preventive screening is recommended. Hormone therapy for symptomatic women with postsurgical menopause should not be delayed as a result of concerns for malignancy or recurrence of endometriosis”.
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