Serotonina e vitamina B3 – mais uma relação nefastaɁ
Muitas evidências do papel da serotonina no metabolismo humano quesitionam a lenda da “boa molécula”
[O aminoácido triptofano, da alimentação, se converte em serotonina ou em vitamina B3]
Existe um aminoácido presente na alimentação de quem consome proteínas como as do leite, carne e ovos, chamado triptofanoe que, normalmente é precursor da síntese, pelo organismo,da vitamina B3 [niacinamida].
Isso se dá quando o organismo não se encontra em estadode estresse. Neste caso, triptofano é convertido, através de determinada enzima, na vitamina B3; já em estado de estresse á acionada outra enzima, que leva o triptofano a se transformar em serotonina, uma amina inflamatória [D]. Estresse e inflamação de mãos dadas, inclusive, no mesmo processo tende a elevar-se o cortisol e o estrogênio.
Nesta nota examinaremos um pouco dessa lógica.
Antes, no entanto, é preciso lembrar que a carência prolongada da vitamina B3 conduz o organismo, lentamente a um quadro clínico conhecido como pelagra [os chamados três “D’. isto é, diarreia, dermatite e demência].
Basta que o organismo tenha inibida a síntese da niacinamida – e ao mesmo tempo, não a receba do exterior – para que aquele quadro dos três “Ds” entre em desenvolvimento. Também já se sabe que mulheres são estatisticamente mais propensas a desenvolver esse quadro, incluindo demência, do que homens.
Igualmente, é fato conhecido na ciência que o estrogênio inibe o metabolismo do triptofano na direção da síntese da vitamina B3, favorecendo a produção de serotonina.
Cientistas levaram a cabo a experiência que descrevo a seguir, em 1984, para tentar esclarecer se uma dieta carente na vitamina B3 e até no aminoácido triptofano [seu precursor] que tende a desenvolver doenças pode ter este processo – e a própria pelagra - acelerado pela oferta de estrogênio.
Isto é, se estrogênio pode fazer parte da construção do estado clínico da pelagra.
A resposta foi sugestivamente sim: estrogênio ajuda a promover doença de pele e o quadro de demência. Sempre lembrando que se trata do estrogênio sem oposição da progesterona. Em excesso e livre do controle da progesterona para poder desencadear seus efeitos tóxicos.
Os cientistas puseram grupos de ratas ovariectomizadas por apenas uma semana com 15 mg por kg de sulfato de estrona [A]. O resultado foi excesso de triptofano sobrando no plasma e, ao final, uma considerável redução na síntese de coenzimas portadoras da nicotinamida nucleotídeo [portanto, evidente carência da nicotinamida com redução da síntese de NAD].
Como se sabe, NAD deriva da nicotinamida e esta, metabolicamente, daquele aminoácido triptofano. E NAD é crucial para a respiração celular oxidativa.
Em seguida, alteraram a experiência, de forma que as mesmas ratas, recebendo estrogênio extra, agora passaram a receber quase nada de triptofano na dieta. O resultado foi agravamento do quadro, menor síntese daquele nucleotídeo, NAD, portanto da niacinamida.
Concluíram, então, que uma dieta que contenha quantidade marginal de triptofano e de niacinamida, ou de um dos dois, agrava a possibilidade do desenvolvimento da pelagra e o estrogênio, por sua vez, reforça e se soma a esse processo [A].
Também se pode concluir que estrogênio aumenta a síntese de serotonina, no mesmo processo em que inibe a conversão daquele aminoácido em vitamina B3.
É a mesma via metabólica, como já se sabe, que fará com que triptofano se converta em serotonina ou em vitamina B3; na presença do estrogênio – o estrogênio mostra-se assim um hormônio do estresse – a conversão preferencial será em serotonina.
[Niacinamida ou nicotinamida, a vitamina B3 que nos convém]
Resumindo: estrogênio em excesso aumenta a incidência de pelagra, e de doenças que antecedem a pelagra, como dermatite, início de demência.
Mais um efeito da medicina dominante iatrogenizando as mulheres, quando são induzidas a usarem a pílula [de estrogênio] ou a própria reposição de estrogênio na menopausa. Tenderá a ser criado um problema adicional de saúde.
Outra experiência.
Sabemos que quem antagoniza com o estrogênio é a progesterona.
Levando isso em conta, o que se esperaria da mulher durante a gestação, em relação à vitamina B3? Seria esperado que, em função da grande presença de progesterona na gravidez - uma presença dominante em relação ao estrogênio -, a mulher passasse a produzir mais vitamina B3, reduzindo-se assim, o risco de pelagra durante a gestação. Certo?
A experiência [B] demonstrou isso.
Em ratas gestantes, avaliando-se laboratorialmente sua urina, foi claramente observada a aceleração do catabolismo do triptofano durante as mais de duas semanas do acompanhamento laboratorial das ratas. Aumentou a síntese da vitamina B3.
A presença de metabolitos da conversão de triptofano em niacinamida foi notavelmente aumentada durante o período gestacional. O fator de explicação mais provável: progesterona.
Concluíram também que gestação “não seria um agente etiológico da pelagra e que não é necessário suplementar com niacinamida” na gravidez.
Progesterona protege da pelagra.
A próxima experiência – apenas mais uma para não alongar esta nota – aponta na mesma direção. Mas agrega um já conhecido vilão, embora para nada divulgado, construtor da pelagra. Trata-se dos óleo insaturado, tão utilizado nos restaurantes de todo o país e na cozinha de cada dona de casa [óleo de soja, milho, girassol].
Quando falamos pelagra, não queremos necessariamente apontar para o quadro completo da doença. Carência da vitamina B3 pode desenvolver por um tempo, apenas elementos prévios da pelagra como dermatite crônica, estado de pré-demência etc.
Vejamos a experiência. Existe uma enzima, no corpo, que faz parte da conversão do aminoácido triptofano em vitamina B3, chamada de alfa-amino-beta-carboximuconato-epsilon-semialdeido carboxilase, mais abreviadamente ACMSD.
Se ela é inibida, o corpo produz menos vitamina B3.
Pois bem, observaram, em ratos, que oferecer um óleo insaturado, o ácido linoleico, na dieta dos animais suprimiu a síntese da niacinamida [C].
Dessa forma, temos a sinergia prejudicial entre estrogênio e óleos insaturados, ambos na mesma direção da inibição da síntese corporal da vitamina B3.
O inocente óleo insaturado da nossa alimentação produzindo uma carência vitamínica.
O propagado “hormônio feminino”, idem, já que o estrogênio, sem oposição da progesterona, terminará promovendo a mesma carência vitamínica.
Existe, portanto, uma lógica metabólica unindo estresse, óleos insaturados, estrogênio.
Nesse caso, hormônios do estresse, óleos tóxicos da alimentação, na gênese de insuspeitas doenças que, mais adiante, a medicina tende a desvincular tanto da alimentação quanto, mais ainda, dos tão enaltecidos “óleos essenciais”.
GM Fontes, Brasília 8-5-23
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos.
Referências ______________________
[A] BENDER A D TOTOE L, 1984. Inhibition of tryptophan metabolism by oestrogens in the rat: a factor in the aetiology of pellagra. Br J Nutr. 1984 Mar;51(2):219-24. doi: 10.1079/bjn19840026. PMID: 6231048 DOI: 10.1079/bjn19840026 “The effect of the administration of oestrone sulphate on tryptophan metabolism has been assessed in rats in order to determine whether and to what extent inhibition of tryptophan metabolism by oestrogens may be a factor in the aetiology of pellagra, and might explain the reported twofold excess of females over males in many outbreaks of pellagra. Feeding ovariectomized rats for 1 week on a diet containing 15 mg oestrone sulphate/kg led to significant inhibition of kynurenine hydroxylase (EC 1.14.13.9), kynureninase (EC 3.7.1.3) and 3-hydroxyanthranilate oxidase (EC 1.13.11.6). There was also a significant increase in plasma tryptophan, suggesting decreased activity of tryptophan oxygenase (EC 1.13.11.11). This inhibition of tryptophan metabolism will result in a considerable reduction in the synthesis of the nicotinamide nucleotide coenzymes (NAD and NADP) from tryptophan. When ovariectomized rats were maintained for 4 weeks on a diet providing no preformed niacin and only a marginally adequate amount of tryptophan (1030 mg/kg), the addition of sulphate to the diet led to a significant reduction in the liver content of nicotinamide nucleotides and the urinary excretion of the end-product of NAD metabolism, N1-methyl nicotinamide. It is suggested that when the diet is only marginally adequate in tryptophan and niacin, inhibition of tryptophan metabolism by endogenous or administered oestrogens may be an additional factor in the development of pellagra”.
[B] SHIBATA, K FUKUWATARI T, 2003. Increase in conversion of tryptophan to niacin in pregnant rats. Adv Exp Med Biol . 2003;527:435-41. doi: 10.1007/978-1-4615-0135-0_51. PMID: 15206761 DOI: 10.1007/978-1-4615-0135-0_51 “There is the report that the deaths by pellagra in women is approximately twofold excess that in men. In the present experiment, in order to clarify a factor in the etiology of pellagra in female and to get basic information how much niacin should be supplemented in pregnant state, we investigated the effects of pregnant on the metabolism of tryptophan to niacin in rats. The daily urine samples were collected from day -17 and day +6 (the delivery day was designated as day 0) and the intermediates of tryptophan to niacin were measured. The metabolites such as kynurenic acid, xanthurenic acid, anthranilic acid, 3-hydroxyanthranilic acid, quinolinic acid, N1-methylnicotinamide, N1-methyl-2-pyridone-5-carboxamide, N1-methyl-4-pyridone-3-carboxamide were increased with progress in pregnant and returned to normal levels after the delivery. The catabolism of tryptophan is accelerated during pregnancy, indicataing that pregnancy would not be an etiology of pellagra and no niacin supplement needs but tryptohan supplement would need”.
[C] EGASHIRA Y NAKAZAWA, A, 1995. Effect of dietary linoleic acid on the tryptophan-niacin metabolism in streptozotocin diabetic rats. Comp Biochem Physiol A Physiol. 1995 Aug;111(4):539-45. doi: 10.1016/0300-9629(95)00067-h. PMID: 7671148 DOI: 10.1016/0300-9629(95)00067-h “To make clear the mechanism of change of tryptophan-niacin metabolism in diabetic rats, we investigated the effect of dietary linoleic acid on the tryptophan-niacin metabolites and the activity of liver, alpha-amino-beta-carboxymuconate-epsilon-semialdehyde decarboxylase (ACMSD), a key enzyme of tryptophan-niacin metabolism, in streptozotocin diabetic rats. Moreover, we investigated the involvement of linoleic acid in the induction of hepatic ACMSD activity by streptozotocin diabetes. In diabetic rats, the sum of urinary excretion of nicotinamide, N1-methylnicotinamide (MNA), N1-methyl-2-pyridone-5-carboxamide (2-Py) and N1-methyl-4-pyridone-3-carboxamide (4-Py) was higher in the fat free diet group than in the linoleic acid group, that was accompanied by the increase of tryptophan intake and reduction of body weight in the fat free diet group. In diabetic rats, hepatic ACMSD activity was higher in the fat free diet group than in the linoleic acid group. The results indicated that the induction of hepatic ACMSD activity by diabetes was not due to removal of the suppressive effect of the linoleic acid on the enzyme. In the diabetic+insulin group, hepatic ACMSD activity was significantly lower than in the diabetic group.
[D] A triptofano-hidroxilase converte triptofano em um precursor a serotonina [5-HTP] que sofre descarboxilação por outra enzima, L-aminoacído aromático descarboxilase], aparecendo, então, a serotonina ou 5-HT. Outra enzima, a quinolinato fosforribosiltransferase – ao lado de outras - leva o triptofano a niacinamida, com ajuda da vitamina B6, vitamina B2 e ferro. “Em contrapartida, o estrogênio poderia inibir a enzima quinurenina hidroxilase (converte quinurenina a 3-hidroxiquinurenina), uma outra enzima da via, tornando as mulheres, com concentrações fisiológicas de estrogênio, mais suscetíveis à deficiência de niacina” [https://www.scielo.br/j/qn/a/GZ4RvWDnK3c36XcvQV5d8mf/?lang=PT citando o Coomes, M. W. Em Textbook of Biochemistry with Clinical Correla tions; Devlin, T. M., ed.; John Wiley & Sons: Massachusetts, 2006, cap. 19.].
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