Quando sua tireoide tem tudo a ver com seu problema cardiovascular
Problemas cardiovasculares podem ser fruto de tireoide hipofuncionante
O endocrinologista cuida da tireoide; o cardiologista do coração. Improvável que eles dialoguem entre si. Não na medicina como ela funciona atualmente, ou seja, fatiada e cartesiana, com cada órgão e cada função refém da “caixinha” do especialista.
No entanto, acumulam-se evidências no mundo científico apontando para a tireoide, ou melhor, o hipotireoidismo como elemento causal e determinante no aparecimento da doença cardiovascular.
“Vários artigos científicos apareceram já na literatura mostrando que hipotireoidismo está a associado a aumentado risco para doença cardiovascular, especialmente doença coronariana do coração. O risco aumentado para aterosclerose é demonstrado em autopsias e estudos epidemiológicos em pacientes com deficiência hormonal tieroidiana” [A].
Também já foi evidenciado que a concentração total de homocisteína no plasma está aumentada em pacientes com hipotireoidismo declarado e que esses níveis de homocisteína decrescem com o uso do hormônio tireoidiano. E homocisteína, como se sabe, constitui um fator independente de risco para aterosclerose.
Também foi provado o vínculo entre hipotireoidismo e alteração no metabolismo da homocisteína, com sua consequente elevação.
[Imagem Mayo Clinic, 2012]
Em suma, tratar problemas do coração como problemas que nascem naquela parte do corpo e analisar um problema com o olhar do especialista que cuida da parte e perde a visão do todo impede que a medicina seja, para dizer o mínimo, eficiente. No exemplo do estudo aqui citado [A], como em tantos outros [B], o problema aparece no sistema cardiovascular, na artéria endurecida e esclerosada, mas sua raiz mais direta e profunda reside na glândula tieroide hipofuncionante.
Não faz nenhum sentido as faculdades de medicina continuarem produzindo médicos padrão “caixinha”, que sendo cardiologistas nada entendem de tireoide. Ou que sendo endocrinologistas não tratam problemas cardiovasculares.
Este é o caminho certo para a hipermedicalização e, na outra ponta, da infelicidade e sofrimento do paciente que, na melhor das hipóteses, vai passar de mão em mão, de “especialista” em “especialista”, podendo jamais encontrar a causa da doença que o atormente e que poderá levá-lo a óbito.
G. Brasília, 11-11-22
[A] ORZECHOWSKA-PAWITOJC, Anna, 2005. Endokrynol Por outro lado. . Mar-Apr 2005;56(2):194-202. [The influence of thyroid hormones on homocysteine and atherosclerotic vascular disease] [Article in Polish]. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16335688/
[B] AUER, J, M.D., BERENT, R., 2003. Clin. Cardiol. 26, 569–573 (2003) Thyroid Function Is Associated with Presence and Severity of Coronary Atherosclerosis General Hospital Wels, Wels, Austria. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1002/clc.4960261205
Excelente artigo, bem escrito, compreensível até ara os leigos.
É uma ótima observação, a falta de diálogo entre areas dificulta diagnósticos, e principalmente a medicina preventiva.