Progesterona e traumatismo craniano – alguma coisa a ver?
Há décadas já se conhece o papel neuroprotetor da progesterona e sua importância estratégica em lesões cerebrais
O Dr David Wright, MD, da Emory University School of Medicine fez, anos atrás, um relato notável do poder terapêutico da progesterona, da sua ação fora do aparelho reprodutor. Tinha sido precedido pelo veterano e entusiasta da progesterona em problemas cranianos, Dr Donald Stein [A].
O grupo de cientistas do Dr Wright observou que acompanhando a recuperação de danos de lesões em ratos, o grupo de ratos fêmeas se recuperava mais rapidamente de uma lesão cerebral induzida nos dois grupos, dos quais um era de machos e o outro de fêmeas.
Examinando com mais detenção descobriram que as fêmeas se safaram do edema cerebral mais facilmente, muito provavelmente por conta do fluxo de progesterona que apresentam mensalmente, progesterona suficiente para que não desenvolvessem até o final o edema cerebral, enquanto os ratos machos sofreram mais claramente de edema cerebral [A].
O grupo de cientistas trabalhou durante 17 anos com esse tema de ratas fêmeas e progesterona e descobriu que quando o grupo de ratos engravidava, no dia onde o pico de progesterona era mais alto, também era o momento em que se consolidava a cura de edema cerebral induzido.
Portanto, sim, progesterona endógena funcionava maravilhosamente no combate à lesão cerebral, em particular contra o seu edema [B].
A experiência seguinte foi oferecer progesterona para ratos machos com lesão cerebral induzida e seu subsequente edema.
O resultado foi o esperado: também os ratos machos que receberam a progesterona estabeleciam um processo de cura [C].
Ali estava a progesterona se mostrando como muito mais que um hormônio feminino [D].
A progesterona é, sabidamente e de longa data, um neuroesteroide protetor do sistema nervoso; neste sentido, de grande importância terapêutica.
São inúmeras as evidências – e, especialmente, já desde os anos 1970, de parte de R Peat - a respeito desse poder da progesterona [F].
Claramente, o boost de progesterona durante a gravidez tem muito a ver com proteção e desenvolvimento neuronal e contra o estresse do processo gravídico, como tão bem explicado há décadas pelo mesmo fisioendocrinologista R Peat.
Partindo dessas observações e reflexões e também de que na segunda fase da menstruação depois da ovulação, quando ocorre a concepção, temos o momento de construção neural inicial do novo ser, parece saliente o papel central da progesterona como neurotrófico.
Os cientistas daquele mesmo Hospital da Emory University, relataram o caso de um jovem que sofreu um acidente de carro, e foi dado como praticamente morto, mergulhando em estado vegetativo e coma imediatamente; caso gravíssimo, portanto. Os cientistas, que já conheciam a experiência da progesterona decidiram, consultando a mãe, fazer um protocolo de uso da progesterona endovenosa em alta dose; o resultado foi impressionante, com o jovem recuperando-se plenamente [voltando, em seguida, a fazer esportes].
[Crédito de imagem: disabilityrightsnj.org]
Essa recuperação explicita o poder de fogo da progesterona na recuperação de doenças graves como concussão e injúria cefalocraniana e isso de parte da mesma molécula que tem se mostrado importante, terapeuticamente, em doenças crônico-degenerativas [exaustivamente demonstrado pelo Dr Ray Peat].
Algum tempo depois do vídeo relatando aquela experiência, o Dr Wilson apareceu com declarações pessimistas sobre a progesterona, um gesto – no contexto do que já se conhecia e se sabe da progesterona – inexplicável [G].
O fato gritante, preocupante, é que, até hoje a progesterona não foi, na clínica de emergência, elevada ao seu papel na doença cerebral. Nem foram, aparentemente, feitas experiências que se mostravam urgentes depois do êxito inicial da progesterona.
Foram feitas outras experiências no mesmo estilo e ainda mais eloquentes, mas apenas para concluirem, ao final, que “mais estudos eram necessários”.
[Crédito de imagem: stanfordchildrens.org]
Inclusive neste ano de 2022 [H][J], ao menos dois trabalhos mostraram seu potencial no tratamento de uma doença séria - traumatismo craniano agudo] para a qual a medicina oficial tem muito pouco a oferecer além dos procedimentos invasivos.
Havia outras experiências, de anos antes, bem promissoras [L][M][N][O][P].], mas estamos diante de um processo que evolui em passo de formiga, dando a impressão de não constituir um desafio de extrema urgência, já que vidas humanas seriam salvas.
Esse é o problema: com excessiva frequência, no mundo do cartel médico, tudo parece indicar que interesses extramédicos atravessam no caminho de descobertas que revolucionariam protocolos de emergência e levam tais avanços à procastinação, ao semiesquecimento, enquanto vidas se perdem, por assim dizer, impunemente.
GMF, Brasília 17-12-2022
Referências:
[A] WRIGHT, David, MD. Disponível no youtube:
[Dr. David Wright explains how Dr. Donald Stein first started studying progesterone as a way to prevent swelling in the brain after a brain injury]
[B] STEIN, Dr. More than 25 years ago, scientist Donald Stein (emergency medicine) noticed that female rats recovered better than male rats from brain injury. The brain researcher thought the difference for females was the effect of progesterone, but he found little interest in this theory among his colleagues, who told him not to waste his time.
Still, he believed he was on to something, and he persisted. He spent decades doing his research in his spare time and with piecemeal funding”. Veio uma época de novos estudos. “David Wright (emergency medicine), who also will lead the new study. "We also found signs that progesterone improved functional outcomes and reduced disability in patients with moderate brain injury."
Laboratory studies suggest that progesterone is critical for normal development of neurons in the brain and exerts protective effects on damaged brain tissue. Approximately 1.5 to 2 million Americans suffer a traumatic brain injury each year, leading to 50,000 deaths and 80,000 new cases of long-term disability. "Ultimately, we learned that progesterone basically does in brain injuries what it also does during fetal development—protect cells and tissue. To now witness the translation of this laboratory research into a treatment that may have live-saving benefits is breathtaking." O Dr Stein também descobriu que adicionar vitamina D à progesterona potencializa seu efeito contra danos cerebrais, protegendo neurônios. [inverno de 2010]. http://whsc.emory.edu/home/publications/medicine/emory-medicine/winter2010/healing-power-of-progesterone.html
[D] EMORY, University. Many research teams, including those at Emory led by Don Stein, PhD, have found in animal experiments that progesterone can protect brain cells from the toxic environment that emerges after traumatic injury. Two smaller clinical trials of progesterone in traumatic brain injury also gave encouraging results. [2014].
Traumatismo cerebral cobre um terço de todas as mortes por traumatismos, fundamentalmente em jovens. São causadas por quedas, golpe por um objeto, batida de veículos e assaltos. Também explosões em guerras. Não há medicações efetivas para melhorar a sobrevida e a recuperação funcional. https://news.emory.edu/stories/2014/12/protectiii_results_progesterone_tbi/
[F] PEAT, Ray, 2006. Progesterone summaries. http://raypeat.com/articles/articles/progesterone-summaries.shtml
[G] WRIGHT, D, 2014. https://news.emory.edu/stories/2014/12/protectiii_results_progesterone_tbi/fers no significant benefit in traumatic brain injury clinical trial
[H] MEI Li, XIANHAO, H, 2022. Effect of drug therapy on nerve repair of moderate-severe traumatic brain injury: A network meta-analysis. Front Pharmacol . 2022 Nov 2;13:1021653. “Among these, the progesterone + vitamin D had not only a higher proportion of patients with good recovery and moderate disability but also a lower proportion of patients with severe disability and mortality”. doi: 10.3389/fphar.2022.1021653. eCollection 2022. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36408253/
[J] ZHENG, C. GONG, J, 2022. Mechanism of Progesterone in Treatment of Traumatic Brain Injury Based on Network Pharmacology and Molecular Docking Technology. Med Sci Monit . 2022 Nov 7;28:e937564. “CONCLUSIONS Progesterone is a potential clinical treatment for TBI. Exploring the potential targets and pathways of TBI therapy through network pharmacology can provide a direction for subsequent research”.. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36336891/
[L] WRIGHT, David W, SHARON D Y, 2014. Very Early Administration of Progesterone for Acute Traumatic Brain Injury. December 25, 2014
N Engl J Med 2014; 371:2457-2466. “Traumatic brain injury (TBI) is a major cause of death and disability worldwide. Progesterone has been shown to improve neurologic outcome in multiple experimental models and two early-phase trials involving patients with TBI”. “More than 2.4 million emergency department visits, hospitalizations, or deaths are related to traumatic brain injury (TBI) annually, and approximately 5.3 million Americans are living with disability from TBI. Survivors of severe TBI typically require 5 to 10 years of intensive therapy and are often left with substantial disability. Despite decades of research, no pharmacologic agent has been shown to improve outcomes after TBI. Progesterone is a potent neurosteroid synthesized in the central nervous system. Preclinical studies in laboratory animals indicated that the early administration of progesterone after experimental TBI reduced cerebral edema, neuronal loss, and behavioral deficits. Enthusiasm for progesterone as a treatment for TBI was further stimulated by two single-center clinical trials showing decreased mortality and improved functional outcomes with progesterone as compared with placebo”. “CONCLUSIONS-This clinical trial did not show a benefit of progesterone over placebo in the improvement of outcomes in patients with acute TBI. (Funded by the National Institute of Neurological Disorders and Stroke and others; PROTECT III ClinicalTrials.gov number, NCT00822900. opens in new tab.)” Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmoa1404304
[M] STEIN, DG, WRIGHT DW, 2010. Progesterone in the clinical treatment of acute traumatic brain injury. Expert Opin Investig Drugs 2010;19:847-857. Crossref. opens in new tab. Web of Science. opens in new tab. Medline. opens in new tab
[N] DEUTSCH ER, ESPINOZA, TR, 2013. Progesterone's role in neuroprotection, a review of the evidence. Brain Res 2013;1530:82-105. Crossref. opens in new tab. Web of Science
[O] WRIGHT, DW, KELLERMANN, AL, 2007. ProTECT: a randomized clinical trial of progesterone for acute traumatic brain injury. Ann Emerg Med 2007;49:391-402. Crossref. opens in new tab. Web of Science. opens in new tab
[P] WEI, Xiao G, YAN, J, Yan, 2008. Improved outcomes from the administration of progesterone for patients with acute severe traumatic brain injury: a randomized controlled trial. Crit Care 2008;12:R61-R61. Crossref. opens in new tab. Web of Science
***