O perigo que vem do intestino e o silêncio da medicina dominante
O papel da flora intestinal: uma espetacular exemplo da desinformação de parte da medicina oficial?
Quando entramos em qualquer estado de estresse – tensão emocional, exercício prolongado, doença crônico-degenerativa, hipotireoidismo e tantas outras formas – ocorrerá, em consequência, um aumento da permeabilidade intestinal. Sob ação da adrenalina, liberada no processo de estresse, a circulação sanguínea na área intestinal fica reduzida, a peristalse diminui e as toxinas bacterianas produzidas no intestino terão mais acesso aos nossos sistemas.
Quanto maior o volume da flora intestinal, mais copiosa será a entrada das endotoxinas no plasma.
As bactérias as produzem, na forma de partículas que se destacam de sua cápsula, seja quando se reproduzem, seja simplesmente por desprendimento mecânico. O fato é que tais toxinas [conhecidas como lipopolissacarídeos], uma vez atravessando a barreira intestinal, vão causar danos em praticamente todos os nossos órgãos e funções, do coração aos testículos e ovários, estando implicadas em quase toda doença crônico-degenerativa.
[Imagem: embracingnutrition.co.uk]
Já se sabe, por exemplo, das implicações das endotoxinas em obesidade [E], resistência insulínica [A][D][C] e diabetes [B]. Ou na gênese de tireoidite [F], hipotireoidismo [G] e da doença de Alzheimer [H][J][K].
“Endotoxinas [polissacarídeos, LPS] são venenos bacterianos potentes, sempre presentes no intestino em quantidades consideráveis.
Várias condições patofisiológicas como hipovolemia, hipóxia, isquemia intestinal, queimaduras e radiação levam a uma ruptura na barreira intestinal e dependendo da extensão da lesão, endotoxinas entrarão na circulação sistêmica em quantidades crescentes [L]” engendrando distintas patologias a depender da saúde geral daquela pessoa concreta, da gravidade do processo e da atividade, por exemplo, física [M] da pessoa.
[Imagem: drugtargetreview]
Quadros clínicos de alta gravidade estão envolvidos com a ação das endotoxinas.
Em situações mais graves, quando a permeabilidade intestinal ou o volume do microbioma aumentam muito, dando passagem a grande volume de endotoxinas , a pessoa pode chegar ao estado de choque [N]. “O intestino contém trilhões de microrganismos e massivas quantidades de endotoxinas, as quais, se absorvidas da luz intestinal para o organismo, resultarão em profundo choque séptico e morte [P] [Q] [R]”.
Mesmo quando elas não entrem em enxurrada no plasma, a entrada crônica, ao longo do tempo, é um mecanismo gerador de doenças já conhecido de longa data, desde ao menos Metchnikoff [S].
O problema de grande magnitude causado pela medicina dominante, com seu paradigma reducionista, ficará incômodo caso seja formulado da seguinte maneira: até quando os congressos médicos, as faculdades de medicina e o cartel médico vão continuar ignorando, de uma maneira geral, a montanha de evidências acumuladas todas essas décadas sobre esse problema que vem do intestino? E que tem a ver com a alimentação inadequada, promotora da flora bacteriana abundante?
[As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos].
GMF, Brasília, 27-12-2022
Referências:
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[N] OPAL S M, SCANNON P J, 1999. Relationship between plasma levels of lipopolysaccharide (LPS) and LPS-binding protein in patients with severe sepsis and septic shock. J Infect Dis. 1999;180:1584–1589.
[B] PUSSINEN, P J, 2011. Endotoxemia is associated with an increased risk of incident diabetes. Diabetes Care. 2011 Feb;34(2):392-7. 2007;56(7):1161-1772.
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[E] MILLS, Robyn, 2018. Obesity trigger identified within the human gut. Disponível em: https://medicalxpress.com/news/2018-03-obesity-trigger-human-gut.html . “Only recently have researchers understood that this "gut serotonin" is actually bad for our metabolism, as it increases blood glucose and fat mass, thus endangering us of developing diabetes and obesity”. Autoimmunity, Thyroiditis, and Intestinal Flora 2012. Site do FPS.
[F] PEAT, Ray, PhD [“Thyroiditis. Some confusions and causes of “autoimmune disease”] https://www.functionalps.com/blog/2012/06/02/autoimmunity-and-intestinal-flora/
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Um substack essencial.