Hipotireoidismo: a mais insuspeita das doenças [I]
Eis a doença que ocupa um lugar central da clínica médica e em cada doença crônico-degenerativa, apesar do silêncio ensurdecedor da burocracia médica
[Imagem: klinikarassvet.ru]
O papel da tireoide no corpo humano é estratégico e sistêmico.
Ela é responsável pela produção do hormônio que sustenta a queima eficiente do açúcar nas células e, portanto, modula o conjunto do metabolismo e da energização corporal.
A tireoide, portanto, nessa sua condição de regulador geral da produção de energia do organismo, [isto é, da respiração celular oxidativa] é chave para a nossa saúde orgânica e metabólica. Cada mitocôndria, cada célula, cada tecido do nosso corpo, depende diretamente e muitíssimo da boa função tireoidiana.
Isso tem a ver com o fato - estabelecido por vários médicos do mundo de que, clinicamente, grande impacto positivo ou até a cura de determinadas doenças degenerativas podem ser alcançados simplesmente tomando como ponto de partida a utilização de hormônios tireoidianos.
Quando a tireoide se torna enfraquecida [hipotireoidismo], o simples fato de trazê-la de volta às suas funções terá o efeito de impactar/reverter um grande número de doenças que se desenvolveram por conta do mau funcionamento tireoidiano [E]. O próprio envelhecimento tal como se dá no nosso meio – privações de nutrientes, uso de óleos insaturados, estresse crônico de todo tipo – termina se tornando uma lenta jornada de construção do hipotireoidismo, do comprometimento da energia biológica necessária para evitar doenças crônico-degenerativas. Não por acaso, o hipotireoidismo campeia no idoso, mas também, atualmente nas mais distintas faixas etárias.
É surpreendente o número de doenças degenerativas que são essencialmente tireoide-dependentes.
O Dr R. Peat - na perspectiva aqui adotada, o mais profundo estudioso da tireoide e do metabolismo do nosso tempo -, resgatou e desenvolveu mais extensamente os ensinamentos pioneiros [A] sobre essa glândula que tinham sido estabelecidos pelo Dr Broda Barnes [1906-1988].
Passemos a palavra para o Dr Barnes, do alto de sua vasta experiência terapêutica de décadas utilizando a tireoide dessecada de suíno no tratamento da doença crônico-degenerativa e do hipotireoidismo em particular.
“É a glândula tireoide, repousando em frente da garganta, abaixo do pomo de Adão e logo acima do osso externo, que regula a taxa com a qual o corpo utiliza oxigênio, controla a taxa com que vários órgãos funcionam e a velocidade com a qual o organismo utiliza os alimentos.
De certa forma, a tireoide, através de suas secreções hormonais, funciona como uma espécie de termostato. Cada célula individual no corpo é algo assim como uma usina de força microscópica: queima alimentos e libera energia, parte da qual é desprendida como calor.
A secreção tireoidiana é essencial para o funcionamento da célula, e, de fato, determina quanto a célula se aquece e a velocidade da sua atividade. O termo ´metabolismo´ se refere àquele fogo dentro do corpo celular.
A influência da secreção tireoidiana nos processos corporais e de todos os órgãos é amplamente estendida e importante.
Quando a glândula tireoide é removida de um animal normal, toda a atividade metabólica é reduzida.
Um decréscimo na produção de calor se inicia – em coelhos, por exemplo, dentro de 5 a 7 dias depois da cirurgia. Por volta da terceira semana, o metabolismo alcança seu mais baixo nível, 35 a 40 % abaixo do normal, uma redução correspondente à que se observa em casos severos de hipotireoidismo em humanos.
A taxa metabólica pode ser restaurada ao normal ou mesmo acima do normal pela administração de substância tireoidiana.
Depois da remoção da glândula tireoide, excessivas quantidades de água, sais e proteína são retidas dentro do corpo. E o colesterol sanguíneo também sobe.
A tireoide joga um importante papel nos processos de crescimento. Girinos, privados da tireoide, não conseguem se metamorfosear em sapos, mas conseguem fazê-lo e a uma grande velocidade, quando excesso de tireoide é administrado. Se um girino, recém formado, recebe hormônio tireoidiano extra, ele se torna prematuramente um sapo adulto, com o tamanho de uma mosca”[C].
“Uma das mais gráficas demonstrações a respeito da glândula tireoide ocorre quando ela é removida de coelhinhos recém-nascidos.
Em duas semanas, seu pelo fica seco e começa a cair. Depois de outra semana,o peso fica bem menor que o de coelhos normais. Com o passar do tempo, cada célula no seu corpo é afetada pela falta de hormônio tireoidiano. Os animais tireoidectomizados sofrem infecções de repetição e morrem a menos da metade da idade em que morreriam.
Quando a tireoide é administrada a alguns daqueles coelhos, ocorre uma rápida recuperação dos seus múltiplos problemas e aparentemente de forma miraculosa, voltam a ter saúde”[D].
Como se viu na abordagem do caso dos coelhos, do ponto de vista teórico, o tratamento do hipotireoidismo em humanos tampouco deveria ser complicado. Desde que pacientes e médicos dispuséssemos facilmente da tireoide dessecada [pó da tireoide suína, sem aditivos químicos ou solventes tóxicos][B].
A estratégia se daria, portanto, através do uso de tireoide [termo doravante entendido como tireoide dessecada, que inclui os dois hormônios, T4 e T3, o inativo e o ativo]; e, ao longo do tratamento, quando, se faça necessário, o doutor incluiria o uso adicional de doses extras do hormônio ativo.
Às vezes basta o uso dessa tireoide, na dose adequada àquela pessoa, e problemas pré-existentes se resolvem.
Na maioria das vezes, não é assim tão simples. Vão ser necessários cuidados e medidas outras para enfrentar esse hipotireoidismo e, sua contraparte, o metabolismo deprimido.
Portanto, no essencial, modular a tireoide significa fornecer o hormônio da tireoide ao paciente cuja glândula apresenta hipotireoidismo. Ou cujo organismo padece de disfunção tireoidiana.
[Imagem: udmi.net]
A dose não é geral, ela é personalizada, embora haja um teto ou limiar de dose mais ou menos definido.
E a estratégia é ir testando e aumentando a dose até se conseguir chegar à demanda singular, daquela pessoa.
Esse é um processo de ajustes graduais, e pode durar semanas ou até meses até que se alcance a dose individual adequada [que se refletirá, positivamente, em temperatura corporal e frequência cardíaca saudáveis] quando se alcance um equilíbrio curativo.
Não é, em absoluto, uma tarefa simples e, em cada caso, pode haver dificuldades desafiadoras, por exemplo, quando o organismo, por conta de cargas tóxicas [óleos insaturados, excesso de estrogênio, endotoxinas], ou disfunções outras não consiga ativar o T4 ou até não permita que o o T3 entre na célula adequadamente. Aqui se torna necessário avaliar cada fator, ver onde está o obstáculo.
Por outro lado, mesmo alcançado determinado ponto do equilíbrio fisiológico, na dose daquela pessoa, será preciso ajustar a dose para cima quando o clima torna-se mais frio, por exemplo, ou quando o paciente sofre doença ou determinado grau de estresse, como a perda de um ente querido etc.
Em toda situação de estresse importante, ajuste-se a dose.
A dieta,por sua vez, pode ser determinante a partir do momento em que se entra em uso do hormônio; neste caso, haverá imediata demanda de mais açúcar e mais nutrientes tipo proteína; e, por outro lado, a carência, desses nutrientes, pode se tornar uma barreira e comprometer o tratamento.
Em uma alimentação de baixo teor de proteína animal, por exemplo, a tireoide pode não funcionar, mesmo com oferta do hormônio.
Alimentação e função tireoidiana adequada são entrelaçados de forma inseparável.
O fígado, por exemplo, só dá conta de ativar o hormônio tireoidiano [T4 converter-se em T3] se dispuser de selênio, de açúcar, de suficiente proteína, e de boa qualidade, diariamente. Quem consome a subdose de 20-30 g por dia de boa proteína - apenas para dar um exemplo - não terá êxito pleno com o uso de tireoide.
Portanto, pode acontecer, e ocorre com frequência, que não se consiga modular a tireoide com a reposição do hormônio, simplesmente porque a dieta não é suficientemente pró-tireoide.
Isto é, a alimentação não está acompanhando a nova demanda energética e nutricional.
E ainda mais se pré-existe uma crônica [e/ou cumulativa] carência de certos nutrientes, um fenômeno que cobra preço alto quando o metabolismo é estimulado e as carências tendem, agora, a se expressar. E também há que se levar em conta a prévia carga tóxica. [Continua na nota II]
[Esta série de notas integram a Introdução do livro Tireoide: questões sobre diagnóstico e tratamento do hipotireoidismo, obra a ser lançada até o fim deste ano]
GM Fontes, Brasília, 2-5-23
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos.
Referências ___________
[A] Hipotireoidismo: a doença insuspeita, é o título do livro do Dr Barnes, sendo que não tenho conhecimento da sua tradução para o português. Broda O. Barnes, M.D., Ph.D. dedicated more than 50 years of his life to researching, teaching and treating thyroid and related endocrine dysfunctions in this country and abroad. During his many years of research and practice, two of his many significant discoveries were: The development and use of thyroid function blood tests left many patients with clinical symptoms of hypothyroidism undiagnosed and untreated. Patients taking thyroid replacement therapy have much better improvement of symptoms with natural desiccated thyroid hormone rather than synthetic thyroid hormones. The significance of these findings and much more information about Dr. Barnes' work is detailed in his book: Hypothyroidism: The Unsuspected Illness. https://www.brodabarnes.org/who_we_are.htm
[B] Em breve sairá aqui uma nota aqui, descrevendo a saga de uma doutora - a Dra Inês - que tentou encontrar a tireoide dessecada no mercado, seja na farmácia comum, seja nas farmácias magistrais. Aparentemente, desde a época do Dr Barnes – quando não era difícil encontrar no mercado a tireoide dessecada de porco, pura, sem aditivos – alguns interesses jogaram pesado para dificultar não apenas o acesso àquele produto clássico – de incontestável poder terapêutico naquele formato - , como ao mesmo tempo para tornar o “extrato de tireoide” do mercado moderno um produto duvidoso e que traz infinitamente maior quantidade – em microgramas – de lixo industrial, de “excipientes” do que a quantidade, em microgramas, do próprio ativo [T4 e T3, constituem o ativo].
[C] P. 18-18 In BARNES, Broda, MD, GALTON Lawrence s/d [1976]. Hypothyroidism: the unsuspected illness. N York: Harper & How. p. 18
[D] P 34 In BARNES, Broda, MD, GALTON Lawrence s/d [1976]. Hypothyroidism: the unsuspected illness. N York: Harper & How. p. 18-19
[E] Em outro momento, será mostrado que o hipotireoidismo pode ser tireoidiano, isto é, da glândula diretamente enferma ou extratireoidiano, ou seja, por conta de um fígado comprometido, carência nutricional, intoxicação com óleos insaturados etc, fatores estes que terminam por comprometer a função tieroidiana.
[F] Thyroid function, vídeo de 58 minutos, com o Dr R. Peat:
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